Poemas
Golfinhos
Tinha, sim, alguns golfinhos.
Golfinhos pequenininhos que as amiguinhas não viam,
escondidos no bolso da blusa.
Golfinhos que se agitavam quando as meninas mentiam,
inventavam intrigas que a incluiam ou não incluíam.
Tinha golfinhos de vidro que a namorada trouxe de viagem,
deixou na estante e foi embora.
Outros golfinhos de porcelana, bem pintados de azul,
lembrança de Fernão de Noronha,
e que sussurravam como é bom ser ilha.
Golfinhos que eram pouco mais que pixels na tela de domingo,
mas acenavam e não se entendia o que queriam dizer.
Tinha golfinhos que ficavam ao sol
espalhando brilhos na forma de espirros de água,
enquanto ela se fechava no quarto para dormir mais um pouco.
Tinha golfinhos que viajavam longas distâncias,
Outros beiravam o litoral e juravam entender Lacan.
Tinha golfinhos que preferiam ler,
tinha golfinhos que preferiam acampar.
Tinha golfinhos que a viram remar no caiaque,
com remos invertidos, e admiravam.
Tinha golfinhos que iam ao cinema.
Tinha, sim, alguns golfinhos.
Alguns golfinhos que se embriagavam,
Alguns golfinhos que se acidentavam.
Às vezes os mesmos golfinhos.
Tinha golfinhos que diziam, "nunca mais".
Tinha golfinhos que diziam, "para sempre".
Tinha golfinhos que diziam, "talvez" ou "quase".
Tinha golfinhos cujas nadadeiras eram lâminas de aço afiadas,
para cortar água e somente água.
Mas nunca se sabe.
...
Poema de Elisa Sayeg
22.10.20
