Tradução de poema de Louise Glück

Introdução e, na sequência, poema traduzido 

A recente vencedora do Prêmio Nobel de Literatura é Louise Glück. Admito que não conhecia. Eu estive lendo os poemas de Joy Harjo, que é a atual Poet  Laureate dos Estados Unidos para 2020 e 2021 (poeta laureada - não temos aqui no Brasil distinção equivalente). Joy Harjo tem ascendência indígena, e seus poemas são, ao mesmo tempo, contemporâneos e nativos, trazem lendas de diversos povos, bem como se referem aos sofrimentos dos povos indígenas norte-americanos. Então, em outra aba deste site fiz a tradução de um poema dessa autora.

Agora sobre Louise Glück.   

Já li professores brasileiros importantes menosprezando a vencedora deste ano do Nobel de Literatura, Louise Glück, sem conhecer sua poesia. Estou procurando conhecer. Como comentei em outro lugar, minhas primeiras impressões foram que são poesias de fácil entendimento (talvez não, apenas as selecionadas nos jornais); e tratam de uma apreensão interiorizada dos acontecimentos, algo de que precisamos nesta era de tanta estigmatização automatizada. Bem, mas agora descobri outra faceta desta poeta: ela trata de dor, luto, sentimento de abandono. Assim, diria que é bem pertinente o Nobel também neste sentido, o de tratar algo que marcará o ano de 2020 para muitas pessoas, o luto, a perda. 


E, finalmente, os dois primeiros poemas que li e de que gostei não são de fácil entendimento. Mas não são muito difíceis. Vou postar aqui a tradução que fiz nesses dois últimos dias, sem considerar finalizada. Mas é suficiente para divulgar. Também não deixo de assinar como tradutora. Vou, depois, comentar esse poema, sem grandes pretensões.  

***

Tradução de HYACINTH, de LOUISE GLÜCK, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2020.

Poema escrito originalmente em Inglês, e traduzido por Elisa Sayeg para o idioma Português do Brasil.




JACINTO


1.


Mas é isso atitude de uma flor, ficar

como um poste no caminho; pobre garoto morto,

é esta a maneira de demonstrar

gratidão aos deuses? Brancas

com corações coloridos, as altas flores

dançam ao seu redor, todos os outros garotos,

na primavera fria, quando as violetas se abrem. 


2.


Não havia flores na antiguidade

mas corpos de jovens, pálidos, perfeitamente imaginados.

Então os deuses desceram à forma humana com desejo.

No campo, no bosque de salgueiros,

Apollo dispensou os cortesãos. 


3. 


E do sangue da ferida

uma flor brotou, qual lírio, mais brilhante

que as púrpuras de Tiro.

Então o deus chorou: sua dor vital

inundou a terra. 


4. 


A Beleza morre: é esta a fonte

da criação. Fora do anel de árvores

os cortesãos podiam escutar

o pio da pomba transmitir

seu uniforme, inato gemido. 

Eles ficaram escutando, entre sussurantes salgueiros. 

Era este o lamento do deus? 

Escutaram com cuidado. E por um momento

todo som era triste. 


5.


Não há outra imortalidade:

na primavera fria, abrem-se as violetas púrpuras.

E ainda assim, o coração é escuro,

há sua violência francamente exposta.

Ou não é o coração no centro

mas outra palavra?

E agora alguém está se inclinando sobre eles, 

na intenção de colhê-los —


6.

Não podiam no exílio

para sempre esperar;

Pelo arvoredo cintilante

correram os cortesãos,

chamando pelo seu nome

o companheiro

Acima do som dos pássaros,

sobre a tristeza incerta dos salgueiros.

Choraram até noite alta,

suas lágrimas claras

em nada alteraram as cores terrenas. 


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HYACINTH, de LOUISE GLÜCK - tradução de Elisa Sayeg  



Original in English:

Poem Hyacinth by Louise Glück  no site da Poetry Foundation 





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